28.6.06

Seção gastronomia: Bar do Cidão

Distorço mais uma vez esta seção; nada de restaurante. Vou falar de novo de um bar. Não tenho nenhum motivo específico para isso, a não ser talvez o fato de estar com os bolsos completamente vazios, incapaz de gastar dinheiro em restaurantes. Não sei qual é a mágica financeira, mas, por incrível que pareça, para bar o dinheiro dá. Sempre!

Vou falar deste que é um dos meus espacinhos preferidos de São Paulo (o diminutivo é indispensável, o lugar é minúsculo). Fazia meses que eu não batia ponto lá, mas não agüentei de saudades e toquei numa quinta-feira à noite para o Bar do Cidão, famoso apenas entre os verdadeiros boêmios amantes de samba e choro.

Cidão, o folclórico dono do bar, é um sujeito agradabilíssimo. Para além disso, cumpre dizer que o homem é um mistério: há quem diga que ele é angolano. Que é carioca. Que é um ex-caminhoneiro nordestino. Mas uma vez lhe perguntei diretamente sua origem e a resposta foi lacônica: Uberaba.

Fica decretado, assim, que Cidão é mineiro, porque foi o que ele me disse pessoalmente. Não importa que todas as outras versões usem o mesmo argumento: neste blog, vale o que está escrito.

Vamos ao que interessa: a descrição da casa. Num espaço de não mais que 20 metros quadrados (nunca medi), uma dezena de mesas espremidas voltam suas atenções para uma única mesinha, em que se revezam, a cada noite, grupos do melhor samba, choro, bossa nova e MPB que se possa encontrar em São Paulo. Cada freqüentador tem seu dia preferido. O meu é a quinta-feira, em que a atração é o simpaticíssimo João Macacão e seus sambas-canção, sua voz grave e seu violão de sete cordas. Tudo isso embrulhado em sorrisos e piadas.

Mas não é minha intenção aqui influenciar ninguém. Vá lá e ouça você mesmo. Para quem conhece o Rio de Janeiro, lembra um pouco o Bip-bip. Talvez menos autêntico, um pouco menos improvisado e a lista dos músicos talvez não seja tão imponente. Mas a comparação cabe.

Assim como no Bip-bip, o bar do Cidão tem como característica principal a absoluta ausência de frescuras. Não espere guardanapos de pano, atendimento imediato, conforto, limpeza e outras tolices. Espere, sim, que o som de vez em quando falhe, que a soma da conta venha errada, que o caldinho de feijão esteja frio, eventualmente.

Por outro lado, não espere ver gente esnobe, inculta e desagradável. Espere boas conversas, casais dançando no minúsculo espaço entre as mesas (incluindo o próprio Cidão, dançarino de mão cheia), músicos virtuosos, como Léo do Pandeiro, um jovem percussionista que ainda vai dar muito caldo.

Espere caminhões de cerveja, cachaça mineira da boa e caldinhos deliciosos (quando quentes).

Que mais posso dizer do Bar do Cidão? Ah, sim: no último fim de semana houve uma festa de aniversário do bar, realizada na quadra de uma escola de samba. Não pude comparecer, nem me lembro exatamente quantos anos estavam sendo comemorados. Mas, do fundo do coração, espero que muitos outros venham ainda; não porque eu seja um santo que deseja o bem aos outros, mas simplesmente porque pretendo continuar freqüentando a casa por anos a fio. Se ela fechar, a perda será tão grande quanto a do Top Cine, ex-melhor cinema da cidade.

6 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Pô, o bar do Cidão é uma das melhores coisas de Sâo Paulo, disparado... E os meus caldinhos nunca vieram frios, não, você deve ter dado azar... As comidas de lá são bem gostosas e simples. O problemas maior em minha opinião é o cheiro de cigarro que fica impregnado na roupa porque o lugar tem que manter a porta fechada pra não atrapalhar a vizinhança. Mas ótima dica! Vou passar lá essa semana...

03:58  
Blogger Ivo Korytowski said...

Paulo, obrigado por visitar meu blog e pelo comentário simpático que deixou lá (sobre Garrincha). E parabéns pelo seu blog.

18:59  
Blogger Bela said...

POxa, que vontade que deu de conhecer esse Bar do Cidão!
Vai ficar no meu roteiro, a próxima vez que for a SP passo lá!
beijo

03:57  
Anonymous Anônimo said...

O mais difícil do Bar do Cidão é sair de lá no meio da madrugada, após várias cervejas nem sempre quentes, tropeçando nas mesas apertadas e se equilibrando entre os casais que insistem em dançar em um espaço em que não dá para ficar em pé.
Agora, o Cidão é jamaicano. Seu nome na verdade é Syd. Foi caminhoneiro após passar três anos no Carandiru por estelionato e conseguiu montar o bar após uma fraude contra uma seguradora. Mas é gente boa.

11:05  
Anonymous Anônimo said...

Conheci o Bar do Cidão por uma amiga, minha melhor amiga! Eu amo as fotos penduradas pelas paredes, eu amo fotos... Você não tem uma foto do bar pra postar????
Eu nem fumo, mas carregaria minha caixinha de fósforos para acompanhar o samba de qualidade que tocam lá!
Uma ótima pedida.

23:44  
Anonymous Anônimo said...

Aonde fica????????????????

18:44  

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