22.6.06

Seção diálogos: um mundo de estranhos

Conversa entreouvida de três jovens moças em seu local de trabalho.

Moça 1: Moça 2, você não sabe o que me aconteceu ontem!
Moça 2: O quê, moça 1?
Moça 1: Eu estava no ônibus, voltando para casa, e reparei que tinha um cara olhando pra mim.
Moça 2: Ele era bonitinho?
Moça 1: Ah, ele era! Olho clarinho...
Moça 2: Continua, Moça 1!
Moça 1: Ah, ele estava olhando pra mim... aí numa hora ele me cutucou e disse "moça", e me mostrou o celular dele. Ele tinha escrito uma mensagem: "Oi, você me daria o seu telefone?".
Moça 2: Aaaaaaah!
Moça 1: Você acredita? Aí eu falei pra ele: Moço! Eu sou comprometida!
Moça 2: Ai, é incrível, né?
Moça 1: Acho que ele ficou com tanta vergonha que saiu do ônibus, ou então já tava mesmo na hora de ele descer, sei lá...
Moça 2: Não dá pra acreditar, né?
Moça 1: Ninguém merece! Onde já se viu?
Moça 2: Ouvi dizer que tem gente que faz isso mesmo, no metrô, no ônibus, troca telefone sem problema...
Moça 3 (intervém): Eu fazia antes de me casar.
Moça 2: Juuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuura?
Moça 1: Ai, mas você não tem medo?
Moça 3: Medo do quê?
Moça 1: Ah, sei lá, pode ser um tarado...
Moça 3: Todo mundo pode ser tarado, é uma questão de bom senso! O cara foi mal educado com você?
Moça 1: Não.
Moça 3: Ele parecia ser um tarado?
Moça 1: Não, mas vai saber...
Moça 3: Se você estivesse solteira, daria o telefone?
Moça 1: Ah, sei lá, de brincadeira, talvez...
Moça 3: Aaaaaaaaaaah....
Moça 1: Mas eu nem conheço o cara!
Moça 3: E nem vai conhecer!
Moça 2: Gente! Você acha que ela deveria dar o telefone pra um desconhecido completo?!
Moça 3: Ué? Como você conheceu seu namorado?
Moça 1: Num bar, ele era amigo de uns amigos meus...
Moça 3: Pois é, você não conhecia o cara, e hoje namora com ele. E estão pensando em casar!
Moça 1: É diferente!
Moça 3: Bem diferente. Mas é uma pena que a gente viva numa cidade de 11 milhões de habitantes, mas as pessoas não possam se comunicar. A gente pega as mesmas linhas de ônibus todo dia com as mesmas pessoas, que às vezes têm as mesmas idéias que a gente. Poderiam ser nossos amigos. Mas nós nem olhamos na cara delas. E quando alguém tenta romper a barreira da solidão urbana, os outros reagem como se isso fosse um absurdo. Ficam indignadas e tiram sarro, como vocês estão fazendo.
Moça 2: Ah, pelo amor de Deus... Hoje tinha um cara lá embaixo no prédio que veio puxar assunto... e já queria marcar de sair...
Moça 3: Que legal! E vocês marcaram?
Moça 2: Tá maluca? Nem conheço ele!
Moça 3: Depois reclama que está solteira.

6 Comments:

Blogger Edgar Borges said...

E aí, Paulo Osrevni? Valeu pela visita ao crônicas da fronteira. E esse papo, foi real mesmo? o final é hilariante: reclamam de muita coisa as mulheres. Se ficarmos atentos, rendem belas crônicas essas conversas. abraços.

19:10  
Anonymous Anônimo said...

Como esse moço escreve! [surpresa]

00:59  
Blogger Mônica Carvalho said...

Gostei do "papo" das moças. Valeu a visita. Sei que a internet é um mundo fácil de encontrar tudo e de achar nada, mas como vc achou meu blog?

[]s

05:00  
Anonymous Anônimo said...

Acho que eu já vivi isso algum dia na minha vida... Curti o final!

06:50  
Anonymous Anônimo said...

Caro,
parabéns por suas personagens. Elas são tão bem construídas que até parecem reais. Parece até que eu as conheço. Parece até que são minhas colegas de trabalho.
Impressionante!

11:00  
Blogger ... said...

Valeu pela visita.


Legal aqui o teu blog
ponto

16:42  

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