26.2.07

Seção versos subcutâneos: Varandas

Crédito da imagem: Yo mismo.

Está na margem
Está na amurada
E acompanha o passar das vagas que sabe frias
Que parecem vivas
E pressente por trás dos ombros
As fileiras de prédios com lanças e escudos
Chaminés e janelas
E nas janelas balcões e nos balcões flores
Mas ninguém às janelas para acompanhar o rio
Em seu curso as marolas
Que frias parecem
Vivas.

Vivas as flores
Respiram
As nuvens que vêm das entranhas dos carros
Parados querem partir para as casas ao longe
Nos subúrbios distantes do rio
Dos prédios varandas flores balcões
Está debruçado com a rua às costas
Está distraído vivo como as flores
Respira o quente o tóxico o fóssil
E pensa e morre poema pensando
E busca algum verso
No curso do rio.

Escuta a agonia
Dá conta dos carros
Engarrafados corre solto o rio
E neles haveria alguma poesia?
A mulher de terno vinho roendo as unhas
Abafada vai suada arranha o volante
Com as unhas que vai roendo
A mulher não é musa
A mulher é poema?
A mulher que quer parada
Partir para casa
A mulher de terninho.

Será poema
Esquecida chegada em sua rua tranqüila
Ao ralhar com seu menino insuportável
Ao questionar se deveria largar seu marido
Estará sem saber impressa algures
Como verso de vinho mordendo seus dedos
Entre as flores os prédios as ondas as águas
Com a mesma impaciência
O mesmo pensamento
A caminho logo antes
De acelerar e antes
De chegar.

Poema suspensa
Porque viva por acaso
Vista por alguém que não viu
Poeta entre as pontes e os postes lanças e escudos
Entre passantes que tampouco o viram debruçado
Nem a ela de terno vinho ao volante
Nem às flores as vivas ondas frias janelas balcões
E não imprimiram por sua tinta o momento
Que de único nada tem
Que revive as flores rio carros nuvens
Só o terno então vinho
Terá outra cor.

7 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Um olhar atento, parecendo uma câmera "pensante", vai colhendo impressões e questionando se elas são "matéria de poesia". E até a prosaica mulher de terninho, dirigindo em meio ao tráfego, se misturou ao devaneio de águas, flores, varandas, pontes...E o poema se fez!!!!
Assim "li" seu texto. Assim "degustei-o".
Abraços.
Dora

20:05  
Anonymous Anônimo said...

Poema lindo!!!

20:17  
Anonymous Anônimo said...

Fiquei feliz que os versos subcutâneos voltaram...

09:01  
Anonymous Anônimo said...

Grande Paulo!!! Desculpe passar tanto tempo sem comentar. Sabe como é, quando abandona-se o blog, abandona-se o mundo blogueiro.
Voltei com "textos de Mr. Somebory". Vamos ver se dá certo.
Prometo aparecer aqui para ler seu poema que parece bem interessante.
Abs,
;)

22:25  
Anonymous Anônimo said...

salve paulo. belo texto.

15:45  
Blogger Lua em Libra said...

É possível ver teu poema, Paulo.
Gosto dele assim, meio imagem, meio impressão.
Abraço,

00:41  
Blogger Mr. Somebody said...

uh... bem legal! Realmente dá para enxergar as cenas.


Abs,
;)

00:48  

Postar um comentário

<< Home

online weblogUpdates.ping Para Ler Sem Olhar http://paralersemolhar.blogspot.com/ Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com Check Page Ranking Blog Flux Directory Blog Flux Directory Blog com crônicas e relatos da vida de um estudante brasileiro em Paris, França. Contos, críticas, reflexões políticas.