Seção dedo de prosa: Seis dias
* * * Mais uma vez, não consegui colocar imagem! Ô programinha de quinta! * * *
Seis dias
Era quarta-feira e uma dúzia de mãos suadas vinha em fila dar apertos flácidos. Era quarta-feira. Rosto afogueado, tentativa de não dar mostras exteriores de nervosismo. Quarta-feira, antes do almoço, dia dezenove, marcado há meses. Mais do que decorada, aquela data. Aquela quarta-feira de tudo ou nada, aquele momento decisivo para uma vida, aquela mesa de mogno antiqüíssima, linda, pontilhada de garrafas e copos de água mineral sem gás. Quarta-feira dos sonhos, da gravata estampada, do absoluto autocontrole e primor no vestir-se, no pentear-se, no postar-se. Um bom café da manhã e um trocado para o engraxate da estação. Ah, quarta-feira!
Foi uma quinta-feira de telefonemas, torcicolo, entusiasmo juvenil, secura na garganta. Vozes jovens, idosas, femininas, viris, um jogral de parabéns que variavam entre a inveja mal disfarçada e a empatia autêntica. Você lutou tanto! Você sonhou anos com isso! Você conseguiu, finalmente! Foi uma quinta-feira triunfal em que as calçadas da hora do almoço eram nuvens e os transeuntes um cortejo, em que nenhum olhar vinha do alto e os relógios não obedeciam senão ao tempo da glória. Foi uma quinta-feira saborosa, para nunca ser esquecida, uma quinta-feira regada a vinho francês e ervas finas, uma quinta-feira que os vates narrariam e atribuiriam a heróis quase divinos. Ah, quinta-feira!
Veio a sexta-feira trazendo o peso dos armários, pastas, papéis. Trabalho duro para a sexta-feira, mas sem reclamações, ao contrário: cada relatório transferido era uma lembrança, um eco da quarta-feira maravilhosa, a quarta-feira cor-de-rosa que deu lugar à sexta-feira de trabalho pesado, mas sobretudo delicioso. Ei-la, brindando a sexta-feira, a sala nova, com o nome antigo já sendo raspado da porta para dar lugar ao novo, resplandecente, que constaria naquela entrada queira Deus por muitos anos. O suor da sexta-feira não era como aquele da quarta. Mas o esforço era filho da apreensão, e nada poderia ser mais agradável. A sexta-feira legou câimbras, fadiga e calos, aquela que foi a melhor sexta-feira de todos os tempos. Ah, que sexta-feira!
Sábado e folga. Tempo para descansar. Sábado da pelada tradicional, chope, piscina com as crianças e jantar a dois com a namorada. Sábado de abraços fraternos, belas jogadas, risadinhas e o sexo como recompensa, ao final. Sábado de contar à ex-mulher sobre o triunfo profissional, contra todas as expectativas. Sábado, cinema, praia, o que mais? Sábado de indecisão e indolência. Sábado de digerir com um gole de cerveja a nova situação. Sábado de entender como a vida passava a ser outra, e o orçamento mais folgado. Sábado de planos, sonhos, desejo de compras. Ambições que afloram. Novos tempos, nova vida, nova pessoa. Todo o passado se apaga de uma hora para outra. Sem deixar saudades. Sem remorsos. Sem elegia fúnebre. O desaparecimento de um é o nascimento de outro. Ah, que sábado!
No domingo, dia claro, uma ligeira ressaca. O time joga hoje? Domingo é dia de jornal mais grosso. Domingo na televisão: a programação é outra. Antigamente, domingo era dia de missa. As lojas não abrem. As famílias saem de casa. Ruas são interditadas para o lazer. A cidade se dedica a ser domingo antes que a segunda-feira torne tudo nebuloso. Domingo não é quarta, não é quinta, não é sexta nem sábado. Tudo toma ares diferentes no domingo. Um único domingo de perturbação e pensamento. Domingo concentrado numa angústia impossível de explicar. Uma angústia que bloqueia o pensamento e não se vence com distrações, nem álcool, nem nada. Angústia que se torna física e se espalha qual seiva pelos membros e o tronco. Angústia sediada na garganta, capaz de trincar os ossos e dissolver os músculos. Capaz de expulsar o oxigênio, parar o coração, escurecer o mundo. Angústia de domingo, capaz de parar tudo, qualquer coisa que entre em seu caminho. Que domingo.
Segunda-feira. Ninguém encontra explicação.
Seis dias
Era quarta-feira e uma dúzia de mãos suadas vinha em fila dar apertos flácidos. Era quarta-feira. Rosto afogueado, tentativa de não dar mostras exteriores de nervosismo. Quarta-feira, antes do almoço, dia dezenove, marcado há meses. Mais do que decorada, aquela data. Aquela quarta-feira de tudo ou nada, aquele momento decisivo para uma vida, aquela mesa de mogno antiqüíssima, linda, pontilhada de garrafas e copos de água mineral sem gás. Quarta-feira dos sonhos, da gravata estampada, do absoluto autocontrole e primor no vestir-se, no pentear-se, no postar-se. Um bom café da manhã e um trocado para o engraxate da estação. Ah, quarta-feira!
Foi uma quinta-feira de telefonemas, torcicolo, entusiasmo juvenil, secura na garganta. Vozes jovens, idosas, femininas, viris, um jogral de parabéns que variavam entre a inveja mal disfarçada e a empatia autêntica. Você lutou tanto! Você sonhou anos com isso! Você conseguiu, finalmente! Foi uma quinta-feira triunfal em que as calçadas da hora do almoço eram nuvens e os transeuntes um cortejo, em que nenhum olhar vinha do alto e os relógios não obedeciam senão ao tempo da glória. Foi uma quinta-feira saborosa, para nunca ser esquecida, uma quinta-feira regada a vinho francês e ervas finas, uma quinta-feira que os vates narrariam e atribuiriam a heróis quase divinos. Ah, quinta-feira!
Veio a sexta-feira trazendo o peso dos armários, pastas, papéis. Trabalho duro para a sexta-feira, mas sem reclamações, ao contrário: cada relatório transferido era uma lembrança, um eco da quarta-feira maravilhosa, a quarta-feira cor-de-rosa que deu lugar à sexta-feira de trabalho pesado, mas sobretudo delicioso. Ei-la, brindando a sexta-feira, a sala nova, com o nome antigo já sendo raspado da porta para dar lugar ao novo, resplandecente, que constaria naquela entrada queira Deus por muitos anos. O suor da sexta-feira não era como aquele da quarta. Mas o esforço era filho da apreensão, e nada poderia ser mais agradável. A sexta-feira legou câimbras, fadiga e calos, aquela que foi a melhor sexta-feira de todos os tempos. Ah, que sexta-feira!
Sábado e folga. Tempo para descansar. Sábado da pelada tradicional, chope, piscina com as crianças e jantar a dois com a namorada. Sábado de abraços fraternos, belas jogadas, risadinhas e o sexo como recompensa, ao final. Sábado de contar à ex-mulher sobre o triunfo profissional, contra todas as expectativas. Sábado, cinema, praia, o que mais? Sábado de indecisão e indolência. Sábado de digerir com um gole de cerveja a nova situação. Sábado de entender como a vida passava a ser outra, e o orçamento mais folgado. Sábado de planos, sonhos, desejo de compras. Ambições que afloram. Novos tempos, nova vida, nova pessoa. Todo o passado se apaga de uma hora para outra. Sem deixar saudades. Sem remorsos. Sem elegia fúnebre. O desaparecimento de um é o nascimento de outro. Ah, que sábado!
No domingo, dia claro, uma ligeira ressaca. O time joga hoje? Domingo é dia de jornal mais grosso. Domingo na televisão: a programação é outra. Antigamente, domingo era dia de missa. As lojas não abrem. As famílias saem de casa. Ruas são interditadas para o lazer. A cidade se dedica a ser domingo antes que a segunda-feira torne tudo nebuloso. Domingo não é quarta, não é quinta, não é sexta nem sábado. Tudo toma ares diferentes no domingo. Um único domingo de perturbação e pensamento. Domingo concentrado numa angústia impossível de explicar. Uma angústia que bloqueia o pensamento e não se vence com distrações, nem álcool, nem nada. Angústia que se torna física e se espalha qual seiva pelos membros e o tronco. Angústia sediada na garganta, capaz de trincar os ossos e dissolver os músculos. Capaz de expulsar o oxigênio, parar o coração, escurecer o mundo. Angústia de domingo, capaz de parar tudo, qualquer coisa que entre em seu caminho. Que domingo.
Segunda-feira. Ninguém encontra explicação.
16 Comments:
http://toomuchcafeina.blogspot.com/
Oi Tudo bem? Parceria é algo complicado, veja bem, estou em parceria com A Outra, para um Blog Experimento e ela não me esperou concluir o convite para os leitores, sim, sim precisamos de pessoas como você e de comentários. Então como eu estava dizendo, ela A Outra, passou na minha frente e foi convidando as pessoas de sua forma, então estou aqui, O Outro, para te convidar para nosso "Projeto Experimento: Um Blog Metalinguístico"
Conto com sua presença e colaboração!
O Outro.
Olá!
Eu sou A Outra e vim aqui te dizer que O Outro é muito enrolado e não conseguiu se decidir numa abordagem ideal para o nosso "Projeto Experimento: Um Blog Metalinguístico". Eu disse que não existe uma abordagem ideal, mas, sabe como são os homens, né? Então o deixei falando sozinho e estou aqui te convidando para conhecer nosso blog!
Apareça!
A Outra.
vim agradecer a visita e te ler sem olhar...rs....
dei uma passada rápida pelos teus escritos, mas vou voltar com calma pra te ler, olhando tudo nos mínimos detalhes, ok?
sobre o blog: sou fã do Chacal...um cara que brinca falando muito sério...ou fala sério brincando....
grande beijo
Vim retribuir sua visita e gostei daqui, vou voltar com calma e ler teus outros escritos, pode ficar certo...
Quanto ao pe´de carambola, se tivesses falado comigo, te arranjava facim, facim...rs
Um abraço e boa semana pra ti...
E eu sou uma das. Ninguém também, talvez.
Obrigada pela visita. Portas sempre abertas.
Beijo.
Puro cotidiano frenético, né mesmo?
boa semana!
bom post, aliás...ótimo post...
o que seria das nossas sextas sem as segundas ...
beijo e obrigada pela passada lá...
volta tá...
Uia, que blog bom. Obrigada por me visitar.
Angústia por conta de uma nova segunda-feira, talvez? O novo nos faz ficar assim... como uma overdose de chocolate... muito eufóricos e depois meio passados...rs.
Boa sorte.
Você sabe que está ajudando a mudar e construir nosso "Projeto Experimento: Um Blog Metalinguístico"? Pois eu vim te avisar que sim, e te agradecer... Obrigada!
A Outra
I hate, hate, hate monday!!! E tenho começado a odiar o domingo também.
O dia a dia é uma loucura, mas a segunda... apenas Garfield definiu bem: "Odeio segunda-feira".
Bjs
Muito para ler aqui, vim apressadinha e volto com mais calma.
Abraço
Programa bom é no Canal Brasil, pra quem tem net! Puts, a globo tem um monte de defeitos, mas perdôo a metade, não a terça parte, pelo Canal Brasil!
Caraca Paulo! Não entendi. O cara se matou? Sumiu? Que pesado, mas tava tudo danedo certo na vida dele, ele ia subir na carreira... Como assim?!
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