18.8.06

Seção obituário: Moacir Santos (Hora do mea culpa)


Este blog passou, isto é, eu passei batido por uma notícia que deveria entristecer todos os brasileiros, mas duvido que tenha tocado mais do que a meia-dúzia de sempre. Só pra piorar um pouco, minha omissão se torna ainda mais gritante pelo fato de que nesse meio-tempo ainda ousei escrever um texto laudatório sobre os grandes gênios da música brasileira. Pois no dia 6 de agosto perdemos um que certamente está nos “Top 10”, se não estiver nos “top” três ou quatro. Que o sol suma do céu e a terra trema: perdemos Moacir Santos (1924-2006).

Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Eu jamais poderia ter deixado tanto tempo antes de comentar, ou, melhor dizendo, homenagear um dos nossos mestres. Talvez isso se explique pela semana infernal que tive, a cabeça ocupada até o talo com uma série de obrigações de que falarei mais adiante, quando for hora. Mesmo assim, não tem perdão. A morte de Moacir Santos é caso de parar todas as atribuições do maldito cotidiano.

Certo, estou exagerando. Mas tudo isso foi só para aguçar a curiosidade dos muitos brasileiros que não conhece esse compositor. De fato, não são poucos: por falta do devido reconhecimento, Moacir se tornou mais um cérebro (genial, diga-se de passagem) brasileiro a tentar a vida no exterior, mais especificamente, EUA. Pena. Lá, ele produziu algumas grandes obras e ensinou a muitos músicos estrangeiros a beleza de música que alunos brasileiros poderiam ter aproveitado para expandir ainda mais as fronteiras da nossa música.

Moacir Santos era pernambucano. Tocou em várias bandas do nordeste até se mudar para o Rio de Janeiro, onde arrumou emprego em vários lugares, principalmente a Rádio Nacional. Fazia arranjos sem saber teoria (o que não é fácil), e seu talento chamou a atenção do professor Hans Joachim Koellreutter, alemão que viveu e compôs no Brasil. Moacir foi assistente do maestro e, mais tarde, deu aulas para João Donato, Baden Powell, Paulo Moura e outros grandes músicos brasileiros.

Tocava vários instrumentos, como a maioria dos grandes músicos, mas tinha uma queda para o saxofone. Sua música é de uma beleza difícil de crer. Moacir tinha a rara qualidade de fazer o complexo parecer simples. O som que criou é uma mistura quase mágica entre influências nordestinas, cariocas (samba e choro), eruditas e norte-americanas (jazz). O resultado é difícil de definir até para o compositor: seu primeiro disco chamou-se Coisas, pelo simplíssimo motivo de que cada uma das músicas ali dentro era uma “Coisa” seguida de um número. A “Coisa” que ficou mais famosa é a no 5. Não vou dizer que é a melhor, porque cada um deve ouvir por si e escolher qual é de sua preferência. Mas o fato é que a “quinta coisa” foi regravada inúmeras vezes.

Depois de Coisas, Santos lançou dois outros discos, já nos EUA. Por fim, quando se reconciliou (mas não voltou) com a nossa pobre pátria, comemorou o reencontro com o lançamento de um disco duplo delicioso de se escutar, todo negro, com um encarte fabuloso, chamado “Ouro Negro” como a pele e o coração do compositor (são músicas instrumentais, então não se pode dizer, como seu antigo parceiro Vinícius de Moraes, que o som é “branco na poesia”).

Pois Moacir Santos, já octogenário, foi-se, legando essas composições monumentais, e uma série de ex-alunos que dignificam nossa história musical. Só acho uma pena que ele não tenha gravado mais discos. Saravá, Moacir!

6 Comments:

Anonymous Anônimo said...

ando tão desencantada com jornais, revistas e sites de notícias que também passei batida por essa notícia. Essa alienação a que me forço tem seus problemas. Minha cabeça anda em parafusos.

20:49  
Anonymous Anônimo said...

Olá! Obrigada pela visita. Gostei bastante do seu blog, vou voltar mais vezes :)

21:16  
Blogger Mr. Somebody said...

Este comentário foi removido por um administrador do blog.

04:22  
Blogger Mr. Somebody said...

Não o conhecia, aliais, não sou conhecedor de músicos e compositores brasileiros. Ta certo, não devia ser assim. Mas hoje em dia o Brasil valoriza muito o que que vem de fora e esquece o que vem de dentro.
O que é estrangeiro é mais "bonito". Somos todos iludidos pelos prazeres que o primeiro mundo oferece, e as maravilhas de uma outra nação. Movidos pela mídia, pelas potencias. Alienados! Mas nossa nação também tem maravilhas! E só sabem reclamar da criminalidade (não que isso seja bom, mas temos qualidades).
É uma pena que a morte de alguém assim tenha passado despercebida (passou por mim tb). Se Fifth Cents tivesse morrido, todo mundo ia saber, e ia dar capa de revista.

04:24  
Anonymous Anônimo said...

Grande Paulo, tudo bem?!?
Sentimos bastante a passagem do Mestre!
Concordo plenamente contigo! Não postei nada também... Mas existem pessoas como você, que nos ajudam a lembrar e valorizá-lo!
Que as Grandes Luzes o tenham recebido e que abençoem você!
Grande abraço fraternal!
Wallace

15:42  
Anonymous Anônimo said...

é.. sou um ingnorantio mesmo... moacir eu só conheço o Franco e o tio da padaria que tbm tem esse nome.

01:49  

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