Seção versos subcutâneos: O homem acinzentado
Este pequeno trabalho é uma homenagem a um antigo chefe meu, que transmitia um ar de constante e inexplicável tristeza. Certa tarde, enquanto lia debaixo de uma árvore, vi-o a voltar do almoço, naquele passo cadenciado que lhe é característico, o olhar baixo e um guarda-chuva na mão. O resultado segue abaixo:
O homem acinzentado
O homem acinzentado
Se protege da chuva forte
Todos os dias.
Olhos fixos no casco do Olimpo,
Conversa em voz baixa com deuses
Sempre enfastiados.
Atravessa a multidão a tentá-lo
Como bloco que se perdeu dos foliões;
Morto de desejo?
O homem estofado de couro
Destranca o tabuleiro de ardósia
E se aplica um xeque-mate;
Comemora com uma taça de Porto
E, ao vento de desejos inconfessos,
Sente-se mareado.
Jamais regurgita a fealdade,
Mas absorve o desencanto:
Vê seu mundo morrer.
O homem acinzentado
O homem acinzentado
Se protege da chuva forte
Todos os dias.
Olhos fixos no casco do Olimpo,
Conversa em voz baixa com deuses
Sempre enfastiados.
Atravessa a multidão a tentá-lo
Como bloco que se perdeu dos foliões;
Morto de desejo?
O homem estofado de couro
Destranca o tabuleiro de ardósia
E se aplica um xeque-mate;
Comemora com uma taça de Porto
E, ao vento de desejos inconfessos,
Sente-se mareado.
Jamais regurgita a fealdade,
Mas absorve o desencanto:
Vê seu mundo morrer.
2 Comments:
Acho que todo mundo que já trabalhou em escritório conhece um ex-chefe mais ou menos assim... acinzentado...
Gostei muito!
Nem todo o ser humano que é acinzentado na sua personalidade possui todas as características que refere no seu poema. É um ser como todos os outros, apenas possui alguns problemas incompreendidos... Agradeço que publique um novo poema sobre o mesmo assunto. Obrigado.
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