7.6.06

Seção versos subcutâneos: O homem acinzentado

Este pequeno trabalho é uma homenagem a um antigo chefe meu, que transmitia um ar de constante e inexplicável tristeza. Certa tarde, enquanto lia debaixo de uma árvore, vi-o a voltar do almoço, naquele passo cadenciado que lhe é característico, o olhar baixo e um guarda-chuva na mão. O resultado segue abaixo:

O homem acinzentado

O homem acinzentado
Se protege da chuva forte
Todos os dias.

Olhos fixos no casco do Olimpo,
Conversa em voz baixa com deuses
Sempre enfastiados.

Atravessa a multidão a tentá-lo
Como bloco que se perdeu dos foliões;
Morto de desejo?

O homem estofado de couro
Destranca o tabuleiro de ardósia
E se aplica um xeque-mate;

Comemora com uma taça de Porto
E, ao vento de desejos inconfessos,
Sente-se mareado.

Jamais regurgita a fealdade,
Mas absorve o desencanto:
Vê seu mundo morrer.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Acho que todo mundo que já trabalhou em escritório conhece um ex-chefe mais ou menos assim... acinzentado...
Gostei muito!

02:15  
Anonymous Anônimo said...

Nem todo o ser humano que é acinzentado na sua personalidade possui todas as características que refere no seu poema. É um ser como todos os outros, apenas possui alguns problemas incompreendidos... Agradeço que publique um novo poema sobre o mesmo assunto. Obrigado.

16:36  

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