19.6.06

Seção "Não Veja: Leia!" - Tudo que é Sólido desmancha no ar

Entrei hoje num blog que pedia a indicação de um bom livro. Agradeço à blogueira: lembrei-me imediatamente de que faz semanas que venho postergando um post que, Viva!, vai inaugurar esta nova seção. "Não Veja: Leia!" será um espaço para indicar boas leituras.

E inauguro com um livro que foi escrito nos anos 80, mas confesso que só veio a cair nas minhas mãos há alguns meses, graças à indicação de um professor de estética da faculdade que fazia. Serei sempre grato ao mestre. Obrigado, professor! Tudo que é sólido desmancha no ar (All that is solid melts into air), de Marshall Berman, deriva seu título de um trecho do Manifesto Comunista. Nem por isso é um livro de esquerda, embora o autor tenha publicações sobre o tema.

Este livro trata da questão da "modernidade". Como assim, questão? Como assim, modernidade? Berman, filósofo e crítico nova-iorquino, dedica diversos capítulos a elencar manifestações de uma enorme revolução na vida humana ao longo dos últimos três, ou até quatro, séculos.

A modernidade, aponta Berman, tem seu embrião no Renascimento, quando uma estranhíssima idéia humanista começa a florescer. No entanto, é só com o advento da burguesia "quase" industrial que a revolução “moderna” se espraia por todas as áreas da vida humana, de maneira generalizada, constante e irreversível no Ocidente. A Revolução Francesa, as reformas do barão Haussmann em Paris, o surgimento do marxismo, são todas faces de um fenômeno que se caracteriza centralmente pela mudança ininterrupta, pela incerteza constante, pelo turbilhão de construção e destruição que qualquer habitante de cidade grande conhece perfeitamente.

O livro é bastante extenso e, sim, editado pela Companhia das Letras só poderia ser mesmo bastante caro. Mas só a leitura da introdução já valeria a pena. Eu diria, aliás, que mudou minha visão do mundo.

O restante do livro também é delicioso. O primeiro capítulo estabelece a figura do Fausto de Goethe como símbolo maior da modernização. Seu rompimento com os códigos sociais da Alemanha atrasada do final do século XVIII pode ser lido como um paralelo da renúncia européia à tradição obscurantista da Idade Média. Sua incontinência revolucionária, que o leva a arrasar completamente todo o mundo que lhe é anterior e mesmo aquele que ele mesmo construiu, pode também ser interpretada como um raio-X da sanha acumulativa irresponsável inerente ao capitalismo.

Em seguida, vêm capítulos sobre Marx e as implicações sócio-econômicas da modernidade, Baudelaire versus Haussmann ou dãndi versus flâneur, São Petersburgo e a literatura russa do século XIX (talvez o melhor de todos, até porque esse período da literatura russa por si só justifica a existência de livros) e, por fim, Nova York no século XX.

O post está ficando longo, então vou parar por aqui. Eu bem poderia seguir discutindo o assunto por dias a fio, mas acho que não fica bem. Quem quiser, me mande um e-mail, que o assunto rende. Todos nós vivemos sob a égide do conceito de modernidade, queiramos ou não, mas a questão para nós, hoje, no século XXI, é “aonde isso vai nos levar?”. Espero que encontremos uma resposta antes de descobrir que chegamos a um abismo.

2 Comments:

Blogger Ana Caruso said...

http://www.brunopasqualini.com/ é o endereço do artista daquele quadro que vc (e eu tb, é claro) gostamos, num dos meus blogs, o "virtuosa Realidade".

Nice to meet you.

(by the way, que coincidencia termos nós os mesmos gostos tb para layouts de blogs...)

18:28  
Blogger Ana Caruso said...

Confesso que pela sua maneira de escrever, temos muito em comum, mas fico meio receosa com autores americanos... Espero perder esse pré-conceito um dia...

16:30  

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