8.6.06

The economy, stupid!

Depois de uma gestão marcada por escândalos de corrupção, deslizes verbais, uma política externa desastrosa e a destruição da cultura nacional, eis que nosso presidente está à frente, e bem à frente, de seu adversário nas pesquisas de intenção de voto para a reeleição. E isso tudo porque, sagaz como é, ainda não admitiu que será candidato em outubro.

Todo mundo está surpreso, ou finge estar. Analistas políticos culpam as divisões internas do PSDB, as brigas com o PFL, a sabotagem do José Serra e do Aécio Neves, a falta de empatia do público com o candidato tucano, Geraldo Alckmin, também conhecido como Chuchu ou “o cara que colocou o Saulo de Castro Abreu na SSP-SP”.

Outros apontam as viagens eleitoreiras do presidente para inaugurar obras no país inteiro, a tal da auto-suficiência em petróleo os aumentos para o funcionalismo, os churrascos na Granja do Torto e até a proximidade da Copa do Mundo.

OK, tudo isso é verdade. Mas a resposta mais correta parece vir da pena de um político estrangeiro chamado James Carville. Tudo bem, a frase é bem batida, mas explica a vitória do Clinton nas eleições americanas de 1996 e explica o bom desempenho de um combalido Lula em 2006, ou seja, uma década depois: “It’s the economy, stupid”.

A frase era um dos motes da campanha de Clinton e parte de uma percepção corretíssima mas que só podia mesmo surgir nos Estados Unidos. Quando a economia vai bem e as pessoas sentem que podem comprar mais, seus empregos estão garantidos, dá pra sonhar com aquela televisão nova, não há erro: eles vão votar no partido da situação. Mesmo com mensalão, charuto na Lewinsky, compra de votos (né, Fernando Henrique?), derrota da seleção, unha encravada...

Chuchu ou não, viagens ou não, se o dólar estivesse em R$ 4, a inflação em 10%, a massa salarial caindo, os juros nominais acima de 20% e assim por diante, Alckmin poderia carimbar seu passaporte para o Planalto e o ar seco de Brasília.

Isso quer dizer que as políticas econômicas do governo Lula foram brilhantes? De jeito nenhum. A economia brasileira se beneficiou sobretudo do acaso, ou melhor, da sorte. Fatores absolutamente incertos como a alta dos preços das commodities, a demanda obesa da China, os juros baixos dos EUA e a conseqüente sobra de capital para países emergentes. Ah, sim, sem contar o aumento da produção de petróleo justamente no momento em que ele atingiu US$ 70 no mercado internacional.

Mesmo assim, o Brasil foi o país emergente que menos cresceu nos últimos anos (não posso considerar o Haiti um país emergente). Nossos 2,5% anuais são até tristes se comparados aos 9% de uma Argentina, por exemplo. Crescemos menos que a Venezuea de Chávez, que o Paraguai, que a África do Sul... que todo mundo. Principalmente: a taxa de expansão da economia brasileira foi menos que o crescimento da população. E isso é perigoso: continuamos empobrecendo, num país em que já é perigoso andar pelas cidades durante o dia, que dirá à noite.

A pergunta que isso traz à cabeça é: como estaríamos se a China tivesse decidido frear o crescimento, os EUA tivessem tido um surto inflacionário que exigisse um aumento dos jutos, a plataforma P-50 não tivesse ficado pronta e os investidores estivessem mortos de medo das volatilidades do mercado?

Difícil dizer, mas certamente a vida do molusco presidenciável não seria tão fácil.

Para terminar: os juros americanos estão subindo, a China deu mostras de que pretende pousar seu crescimento, os preços das commodities estão estabilizando. Que segundo mandato teremos, se o Lula confirmar a vitória?

As apostas estão abertas.

1 Comments:

Blogger Ivo Korytowski said...

Pois é, o FHC enfrentou várias crises financeiras internacionais, além da crise da energia. Já pensou passarmos por uma crise dessas tendo no governo os trapalhões do PT? Lula é sortudo mesmo...

17:17  

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