28.8.06

Seção obituário: Agosto também tem coisas boas



Atenção: este texto não é recomendado para usuários com problemas cardíacos ou hipertensão.

Estive sem computador durante toda a semana, o que é sempre muito chato, mas desta vez me causou ainda mais danos: impediu-me de saber imediatamente do falecimento de um indivíduo cujo nome não vou dizer com todas as letras porque não quero ser processado. É uma pena. Não costuma ser de bom tom comemorar uma morte, mas desta vez vou abrir uma exceção à regra (que não deixa de ser um pouco hipócrita).

Se eu tivesse visto a notícia na internet poucos minutos depois de sua confirmação, garanto que teria aberto uma garrafa de champanha. Quem disse que em Agosto só acontecem desgraças? Às vezes a Terra se liberta de seus pústulas, e quando isso acontece em Agosto, ora, ponto para o mês! Eu diria até que o dia do falecimento da figura deveria ser decretado feriado nacional (não vou dizer o dia porque não quero ser processado).

Bom, mas se não vou dizer quem era, tenho que pelo menos descrevê-lo um pouco para explicar o motivo de meu contentamento um pouco fora dos trilhos. O indivíduo em questão foi um que ousou conspurcar, aviltar, por que não dizer, esculhambar, uma das maiores paixões e um dos maiores patrimônios do povo brasileiro: isso mesmo, o futebol. O sujeito, parte de uma trupe que reúne outros tantos nomes mais do que conhecidos e que tampouco vou mencionar, em benefício de seu bolso (e o de alguns amigos próximos) destruiu algumas das mais sólidas instituições esportivas brasileiras, fez ruir todo um belo edifício de glórias e boas tardes de domingo, atirou no ridículo diversas carreiras sólidas de jogadores, técnicos, dirigentes, juízes e jornalistas. Ele fez de tudo um pouco. Assumiu o importante cargo que “exerceria” durante mais de duas décadas declarando para todas as rádios, redes de televisão e jornais que determinado time não seria campeão enquanto ele dominasse a torre daquele feudo (quase conseguiu). Foi afastado por irregularidades gritantes e voltou por liminares absurdas. Durante seu reinado, o que era grande se tornou pequeno. Ridículo, até.

Quando chegaram à final de um importante campeonato nacional brasileiro os dois clubes que mais se beneficiaram das maracutaias do sujeito, pensei: “Pronto. Não há mais esperança para o futebol do Brasil. É o fim. Agora esse pilantra só sai lá de dentro morto. Ele e os outros grandes caciques (cujos nomes não vou mencionar para não ser processado).”

E não é que eu estava certo? Para o bem ou para o mal, ainda há uma entidade neste mundo que não pode ser subornada, ludibriada, desviada, enganada, dominada, que foi o que o cara fez com o nosso futebol. É a morte. Dá até vontade de virar religioso: da morte, ninguém escapa. Dizem que vaso ruim não quebra. É quase verdade. Os demais vasos ruins (que não vou mencionar vocês sabem por quê) estão todos por aí. Mas eis aí um que quebrou, e creio que vale uma pequena comemoração.

Não serei ingênuo a ponto de crer que a partir desse milagre o futebol brasileiro (e particularmente da região tiranizada pelo falecido) vá se reerguer. É evidente que a estrutura que permitiu seus vinte e poucos anos de despotismo nada esclarecido segue intacta, e corremos o risco de vir um sucessor que seja pior ainda. Mas não posso perder essa oportunidade de fazer as minhas exéquias, sobretudo para que não seja mais um indivíduo que não faz falta alguma a só receber homenagens. Sei que sua tumba deve ser um mausoléu. Sei que presidentes de clubes devem ter dito coisas maravilhosas a seu respeito. Sei que farão bustos e estátuas em sua homenagem. Sei que haverá uma rua com seu nome. Faço, porém, questão de que haja um outro lado: este meu texto.

Portanto: Não, a morte do homem não é nada a ser lamentado, ao contrário. Deveriam pendurar seu corpo em praça pública para que a população lhe dê pauladas, mais ou menos como fizeram com Mussolini. Sei que enquanto escrevo seu arremedo de alma está tentando em vão equilibrar-se à borda do lago de fogo do sétimo círculo do Inferno. Queria ter um dia de Dante para poder apreciar o espetáculo, e quem sabe tirar uma fotografia. Sei que isso não vai acontecer. Tudo bem, basta-me poder fechar os olhos e imaginar.

* * *

Aproveitando que o assunto é futebol, gostaria também de comentar a final da Copa Libertadores, agora que a poeira baixou e os são-paulinos não estão mais querendo destruir a cidade. Mas o fato é que a conquista do Internacional de Porto Alegre deve ser louvada até pelos derrotados, por um fato até banal, mas muito relevante: é de certa forma uma vitória sobre a roubalheira.

Explico.

O campeonato brasileiro do ano passado foi o exemplo maior de como ainda somos uma república de bananas que quer tudo na mão, nem que para isso seja preciso passar por cima de tudo e de todos. Com a ajuda de um poderoso e obscuro investidor (provavelmente fachada para lavagem de dinheiro de mafiosos, segundo dizem), o Corinthians se armou para levar o campeonato a qualquer custo. Mas como o time não ajudava, começou a cair pelas tabelas, e os grandes candidatos ao título passaram a ser o próprio Inter e o Fluminense. Alarmado, o tal investidor simplesmente comprou o campeonato, que contou com cenas bizarras como um gol anulado por impedimento em lance de escanteio (!!!) e assim por diante.

Pois bem, o investidor conseguiu o que queria. Levou para casa o campeonato mais ridículo da história de campeonatos ridículos do Brasil (fora alguns casos clássicos do reinado do sujeito da primeira parte do texto). Nem por isso o quadro seria bom. Quando foi tentar a sorte na Libertadores, apanhou logo de cara de um River Plate que não pode definitivamente ser considerado um dos melhores times de sua história e voltou para casa com cara de tacho.

Já o Inter, um dos grandes prejudicados pela roubalheira do ano passado, chegou até a final e foi campeão. O Inter, que da última vez que jogou a Libertadores tinha chegado através de uma roubalheira acintosa na final da Copa do Brasil, há mais de década. Pois naquele ano, em que roubou, não conseguiu nada. Neste ano, em que foi roubado, ergueu a taça (contra todos os esforços do Abel Braga, que fez de tudo para perder os dois jogos da final e não conseguiu).

O Inter, roubando, não ganhou. Sem roubar, ganhou. O Corinthians, roubando, ganhou o brasileiro, mas perdeu o que realmente queria: a Libertadores. Quem sabe se por meio de um trabalho sério a coisa não possa acontecer de maneira melhor no futuro? Não consigo deixar de ver nisso um incentivo para que o brasileiro comece a buscar outras maneiras de se dar bem, além de simplesmente fazer tudo por fora ou por baixo do pano. Às vezes, a luta séria e honesta traz resultados melhores.
Nada, claro, contra o São Paulo Futebol Clube. Apesar de ter se tornado grande após receber um presentão de um governador-torcedor em forma de recursos públicos que deveriam ser usados na construção de metrô, casas populares e escolas, mas viraram um estádio enorme e um clube nababesco, a partir dos anos 90 as administrações do tricolor paulista são talvez as mais sérias do Brasil, e isso deve ser aplaudido, ainda que com ressalvas. (Também espero que eles percebam que contra times mexicanos que só se defendem um marqueteiro debaixo das traves é mais do que suficiente, mas contra times de qualidade que chutam a gol, é necessário um goleiro.)

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Como de futebol eu só sei que tem uma bola e quase nunca pode se usar a mão, não faço idéia de quem seja o cartola falecido em questão... mas tbm, não me enteressaria saber.

03:07  
Blogger Heloisa B.P said...

Venho LENDO!...
Vou continuar!
Nao sou muito assidua, nao por desinteresse, mas, por impossibilidade!...

SAUDACOES CORDIAIS!

Heloisa B.P.
**************

23:56  
Anonymous Anônimo said...

Muito chato esse papo aê... Não faço a menor questão de saber de quem vc está falando... volte para as poesias...
Abraço

02:54  

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