Buongiorno, Mediterrâneo!
Já a cidade de Colombo, pelo menos, parece estar livre dessas forças malignas. Quem se interessa pela Itália histórica, aquela que ofereceu ao mundo gente como Giotto, Michelangelo, Maquiavel e Dante, que abra mão da Florença que abrigou esses gênios, e tantos outros. Essa que, hoje, está assentada sobre o solo da Toscana, não é a mesma dos guelfos e dos Médici.
Quanto à velha Gênova, poucos passos levam da estação de trem aos becos medievais, escuros, que às vezes mal dão passagem a uma pessoa. Os edifícios centenários, coloridos, são pontilhados de afrescos religiosos e invariavelmente ligados por varais. Em quase todas as janelas, o azul e vermelho do Genoa, um dos clubes de futebol da cidade, o mais antigo do país, que acaba de retornar à primeira divisão do campeonato italiano.
O centro histórico é muito bem conservado, a não ser por um viaduto, já à beira do Mediterrâneo, que lembra muito o da Perimetral, no Rio de Janeiro. O antigo porto, das galés romanas e dos mercadores renascentistas, foi reformado, em projeto de Renzo Piano, o orgulho vivo da cidade. Um largo calçadão, com seus bancos de madeira em que descansam os idosos, proporciona aos genoveses seus passeios à beira-mar, tomando o gelato que só
Nos bairros um pouco mais afastados, escondidos dos olhos de quem se interessa pela arquitetura histórica, os edifícios altos e modernosos parecem indicar que não apenas da memória de seus navegantes e exploradores vive o lugar. Renovado há pouco mais de uma década, o porto injetou na região um novo sangue econômico. É, em resumo, uma das cidades mais dinâmicas da Itália, no dizer de seus orgulhosos moradores.
A topografia de Gênova lembra a de Salvador: uma "cidade baixa", a antiga, numa faixa estreita entre o mar e as montanhas, e as casas que vão subindo as escarpas quase verticais. Não há um Elevador Lacerda, mas há muitos outros elevadores e funiculares que levam aos bairros mais elevados. Ao contrário da capital baiana, não são os excluídos e miseráveis que ocupam as encostas; muito pelo contrário, ali estão as maiores casas, os condomínios, os antigos palácios, que aproveitam ao máximo a paisagem deslumbrante. É como uma Santa Teresa antes das favelas, ainda que a vista não rivalize com o panorama da baía de Guanabara.
Lá de cima, pude me dar conta de que contemplava, pela primeira vez na vida, o Mediterrâneo. Uma constatação tola, talvez; mas não posso fazer nada, ela me atingiu. Água bonita, é verdade. Uma tonalidade diferente das que conheço, uma mistura indescritível de tons de azul e verde. Pela linha do horizonte, navios às centenas. Só então percebi a saudade que tinha de contemplar o mar, sentindo a brisa nas narinas e nas copas das árvores. Quanto tempo, pensei. Como é bom!
Mas não consegui. Diante de mim, havia apenas um mar, ondejando em paz, ao sabor do vento e espatifando o brilho do sol. Na cidade, os genoveses levam suas vidas como qualquer habitante de Vitória, Cuiabá ou
Como não sou local, pude viver nessa adorável cidade um pouco do que é a Itália, em termos históricos. As igrejas medievais abertas, sem bilheteria, em que se podem descobrir tesouros que não estão nos guias turísticos. A população que dá informações sem esperar nada em troca. Os restaurantes que cobram apenas pelo que servem, sem estratagemas para tirar mais dinheiro de quem está pacificamente sentado à mesa.
Mal sabíamos, enquanto passeávamos à beira do Mediterrâneo genovês, tomando nosso sorvete de melão, que ainda havia muita Itália em nosso caminho.
9 Comments:
Que delícia... Vontade de pegar o primeiro avião e o primeiro trem para Gênova. Aliás, os relatos italianos estão tão saborosos quanto uma pasta que faz chorar!
Eu ainda visito a Itália!
Se você não deu uma voltinha de barco pelo porto de Gênova, perdeu a melhor parte. Também gosto dessa proximidade a Salvador, com cidade alta e baixa. Só faltou o Pelô.
Curiosidade: antigamente - e bota tempo nisso - as casas da orla eram coloridas para que os marinheiros pudessem avistá-las mais facilmente.
Não sei o que se passa, mas o texto veio todo desconfigurado...
Volto logo mais.
Leio este seu blogue com um prazer renovado a cada post.
Também sou leitora do Breviário, a quem fui apresentada pelo Diego, do Perambulagens.
Título apropriado tem o Cálculo Renal. No início achei estranhíssimo, mas agora me parece tão óbvio. A 'dor' que sinto ao lê-lo deve ser parecida com a sua, que diz experimentar ao parir seus textos. Acho que somos um tanto masoquistas.
Confesso que li com prazer alguns dos teus posts e este último é sem dúvida uma pequena visita guiada bastante saborosa ;)
Tenho, desde a infância, uma verdadeira paixão por Itália (que ainda não conheço, infelizmente) em parte pela minha ascendência italiana. Esta descrição de Génova deixou-me ainda mais encantada, se possível. Mas pergunto-me: já esteve em Lisboa? Já visitou Alfama. Algo nesta descrição me faz pensar que deve haver semelhanças.
Obrigada pela visita à BdJ.
Bonito relato.
Traidor, lembrou até dos fenícios e esqueceu Castagneto !!! Devia ter procurado e fotografado a Salita Emmanuele Cavallo, para meu benefício (os endereços estão todos no livro, que, eu acuso, você não leu). Ah Paulo Osrevni, espero que seu blog seja invadido e dominado por alguém mais determinado, alguém, digamos, como um cruel conquistador espanhol, ou valoroso muralista mexicano, por exemplo um Diego desses que marcaram a História.
Postar um comentário
<< Home