29.11.07

Aqui começa a arte


Vendo enfrentar a escadaria aquela figura trôpega, esfarrapada, mal-cheirosa e barulhenta, os dois enormes seguranças não tiveram dúvida. Bastou uma rápida troca de olhares e compreenderam como que teriam de proceder, mesmo que não tenham visto os olhos um do outro por trás dos óculos de sol, debaixo da noite abafada de quase carnaval. Era o trabalho deles. E eles sabiam fazer seu trabalho. Respondendo como uma muralha de pedra ao discurso ilógico do barbudo banguela, cada um enfiou seu braço por baixo de uma axila, e já iam atirar aquele saco de batatas degraus abaixo, como se fosse um incômodo miserável, quando um berro estridente, projetado do interior da galeria, os constrangeu a interromper o gesto.

"Não, não! O que é isso?! Podem parar! Podem parar! O que é isso?! Não, não!" Era o próprio artista que se esgoelava, braços projetados, uma mão espalmada, a outra bem firme ao redor da Piña Colada. Estranho, o contraste entre a indumentária toda negra, colada ao corpo; a mão rechonchuda, tão branca, doentia; e o pára-sol de papel e palito, numa profusão de cores primárias, que encimava o coquetel. "Podem largar! Já!"

Pois largaram. O vernissage era dele. A festa, idem. O trabalho, os convidados, as obras. Enfim, tudo. Por aquela noite, era ele que mandava. Sem um traço de delicadeza, a grande massa amarfanhada foi ao chão com alarde, e a garrafa quase vazia que carregava escapuliu de sua mão, rolou pelo chão e foi se espatifar em contato com o batente da porta. E a porta era de vidro, mas não deu mostras de querer trincar. O artista, todo sorrisos, agachou-se ao lado do corpo andrajoso que gemia. Encarou-o. Sorriu para ele. Mas manteve distância. "Não ligue pra esses brutos". Referia-se aos seguranças, já restabelecidos em sua posição de sentido. Mãos às costas, faziam de conta que não escutavam. Caras amarradas, espinhas eretas, verdadeiros blocos de pedra. "Você é bem-vindo. Aliás, você é a resposta para os meus problemas. Daqui a meia hora, começa minha exposição. Não estou nada satisfeito com meu trabalho. Pensei tanto em cada obra dessas, mas... Não sei! Falta alguma coisa. O elemento espontâneo!... Inesperado!... louco..."

"Foi meu orixá que te trouxe aqui! Rora-ieiê-ô, Oxum!"

O bárbaro de olhos inchados escutava através da cabeça balouçante. À guisa de acompanhamento, emitia grunhidos de inspiração caprina. De súbito, esticou a mão para a Piña Colada. Mas seus olhos preferiam buscar a luz dos postes. O artista ficou satisfeito, embora um pouco reticente, em ceder seu copo. "Pode entrar aí, beber o que quiser, fazer o que der na telha. Pegue as obras e estrague! Suje! Atire no chão! O que você tiver vontade!"

O paladar estragado pelas décadas de álcool quase puro não apreciou a doçura do coquetel. Ainda a balir, pôs-se de pé, o intruso, e largou o copo, cujo conteúdo, misturado aos cacos de vidro, espalhou-se pelo calçamento em configuração de aparência cartográfica. Os minúsculos cristais aureolavam os espólios da garrafa. Foi-se embora o punhado de ossos, cambaleante, imprecando contra alguém ou algo. Os seguranças mantinham guarda, impassíveis como soldados britânicos. O artista, que não leva desaforos para casa, reservou alguns momentos para encarar a sujeira, imóvel senão pela mandíbula que mastigava a si própria. Em seguida, puxou do bolso um cartão e uma caneta. Rabiscou: "Aqui começa a arte, e aqui ela termina". A caneta voltou para o bolso. O cartão foi endereçado ao solo, logo abaixo do pára-sol colorido. Sem mais, o artista retornou para o interior da galeria, onde o aguardava, batendo o pé e bufando, o marchand mais importante da cidade.

23.11.07

Esse povo boa-praça


Os etruscos eram um povo bacana. Não vou declarar aqui que eram franciscanos ou carmelitas descalças, afinal, todo mundo sabe que gente pacífica não dura muito neste mundo tão hostil. Que dirá no mundo antigo, em que os povos tiravam um estranho prazer de degolar, violar e saquear uns aos outros. É evidente que os etruscos também sabiam dar seus cascudos. Os primeiros romanos, por exemplo, levaram sua parte, e não foi pouco. Roma foi fundada em território etrusco (mais ou menos), seus primeiros reis eram etruscos, assim como um terço de sua população. E como ainda não havia Sila, César ou Trajano, a prudência lhes comandava obedecer aos primos poderosos do norte. Etruscos mandavam, romanos baixavam a cabeça, e ponto.

Também não eram grandes exemplos de magnanimidade, esses aí. Ao lado dos cartaginenses e dos gregos, foram grandes mercadores do Mediterrâneo. Após uma série de batalhas, para evitar mortes e prejuízos desnecessários, os três povos assinaram um acordo que dividia o mar em áreas de exclusividade. Mais ou menos como fazem as máfias nas grandes cidades de hoje, e também, mais ou menos, como portugueses e espanhóis fizeram com o mundo inteiro no século XV. E, como em todos esses exemplos, quem cruzava a linha, mesmo sem querer (por causa de uma tempestade, digamos), acabava sem barco, sem dinheiro e, eventualmente, sem cabeça. Teve muito descendente de Ulisses que pereceu em casos assim. Esse pessoal não estava para brincadeira quando havia ouro e prata em jogo.

Mesmo assim, sustento que os etruscos eram um povo bacana. Tenho dois motivos para tal. O primeiro pode se verificar em qualquer um dos muitos museus etruscos espalhados pela Toscana, bem como nos departamentos de etruscologia (sim, isso existe) dos maiores museus do mundo. A forma como aquela gente encarava a morte é invejável. Nos sarcófagos, escavados de tumbas em forma de casas, a decoração evoca grandes celebrações e banquetes, com música e dança. Os frisos são ornados de pássaros e flores, e os defuntos, representados nas tampas, não estão estirados como, bem, cadáveres, conforme vemos em sarcófagos medievais e até modernos. Os etruscos se faziam esculpir deitados de lado, face apoiada pelo punho, segurando um prato à altura do ventre, como se fotografados em pleno festim.

O ossário etrusco lembra uma urna de cremação, tampada com um busto (que parece ser) do morto. A urna fica sentada numa espécie de poltrona de metal que parece muito confortável, pelo menos para o ocupante. É curioso: o busto parece sempre sorrir. Um sorriso tranqüilo, leve, longe de histérico. Um leve alçar dos lábios. Nada parecido com os bustos de grandes homens que encontramos em galerias helenísticas, latinas ou contemporâneas. A caixa de ossos etrusca, que lembra uma pequena pessoa sentada, parece contente com a morte. Tem lá suas jóias, sua poltrona, e tudo está bem. É difícil não simpatizar com um povo desses. No Louvre, por exemplo, existe um enorme sarcófago etrusco, o maior que já vi, em que estão representados um homem e sua esposa, deitados de lado, como sempre. Têm uma expressão sorridente que me pareceu um tanto quanto sacana. Essa é, claro, uma impressão pessoal. Mas a leveza que a peça transmite é universal, a quase alegria diante de uma obra de arte funerária.

A segunda característica que me obriga a ter simpatia pelos etruscos nada tem a ver com morte. Pelo contrário. Observando suas inscrições em pedra e lendo brevemente sobre sua história, pude concluir que se trata de um povo bastante pragmático, o que não é, em si, uma qualidade; mas certamente o será o fato de que eles sabiam reconhecer quando estavam por baixo. Sem crise. Senão, vejamos. Lá pelo terceiro século antes de Cristo, a coisa já não ia bem para o lado da Etrúria. O poder naval, depois de algumas guerras (o tal acordo não durou tanto), era quase nulo. Os gregos se espalhavam feito pólen pelas ilhas do Mediterrâneo: fundaram colônias na Sicília, na Córsega e até no que hoje é o sul da França. Era a chamada Magna Grécia, antecedente do que seria o período helenístico. Pois os etruscos, que não foram invadidos, nem colonizados pelos helenos, não tiveram dúvidas. Adotaram os princípios artísticos da Hélade, passaram a escrever no alfabeto grego, começaram a representar nos monumentos as melhores passagens da mitologia do Olimpo (por algum motivo, o episódio preferido era o de Polinice e Etéocles). E não se fala mais nisso.

Mais um pouco, a situação piorou novamente. Celtas atacavam pelo norte, romanos se empolgavam pelo sul. A capital desses últimos, por sinal, foi saqueada por Breno, líder gaulês ancestral de Asterix, com a ajuda de alguns reis etruscos. Os futuros donos de meio mundo não gostaram nem um pouco. Enfezados, decidiram dar a volta por cima. Expulsaram seu último regente e, de quebra, iniciaram a construção do maior império do Ocidente. Os etruscos se viram enfraquecidos, empobrecidos e sufocados pelas novas grandes potências. Não faz mal. Bastou-lhes começar a escrever em latim, venerar Júpiter e Marte, e a vida continua, como sempre.


Mais vale associar-se ao poder alheio do que insistir numa força que já se perdeu? Não sei se concordo; mas, enfim, foi o que fizeram. Assim sumiram os etruscos. Não foram dizimados, nem exterminados, nem propriamente conquistados, uma vez que a maior parte de suas cidades se submeteu a Roma sem grandes conflitos. Eles apenas aceitaram o fim. Aculturaram-se Não é, a bem dizer, um verdadeiro exemplo de amor próprio, orgulho ou grandiosidade. Com base na facilidade com que incorporaram a própria decadência, podemos dizer, com o máximo de benevolência, que o povo etrusco era boa-praça.

16.11.07

Os notívagos



Quem for, saberá. Existe em certas almas o impulso de lançar-se às calçadas quando a cidade está paralisada, atemorizada pelo silêncio frágil que emana dos velhos postes. Os notívagos, no sentido inverso encontram nessa trégua forçada e diabólica seu verdadeiro universo. A atividade selvagem das horas de luz lhes parece de uma agressividade infernal. É insuportável.

Está além de suas forças resistir ao chamado da madrugada. É como se apenas durante à noite o mundo exterior entrasse em conjunção com as tribulações de suas mentes. São dois oceanos de fatos e mitos que, sob a regência do sol, vivem em conflito, uma guerra cruel e insolúvel, e só podem estender um ao outro uma palavra de conciliação debaixo do sereno.

É um arremedo de paz, supervisionado pelo luar, entre a subjetividade do notívago e seu impávido mundo circundante. Não poderia ser diferente, é claro. O congelamento das hostilidades é permeado de desconfianças mútuas, uma espécie de desprezo e, sobretudo, o receio da traição iminente. E ela sempre chega, instilando-se com os primeiros raios cor-de-laranja e violeta da alba.

Quem são esses corpos errantes encolhidos de frio, atravessando as avenidas sem lançar olhares para as janelas iluminadas, raras e inexplicáveis? Quero crer que há todo tipo de gente. Médicos, engenheiros, advogados, um grande investidor do mercado financeiro, um general da reserva. O próprio presidente da República, imagino-o a se esgueirar para fora do gabinete, despistar o invencível aparato de segurança, abandonar o palácio pela porta lateral que dá para um beco sujo e mal-iluminado, e cair incógnito na superfície de sua capital, a cidade que ele outrora conhecia tão perfeitamente, mas hoje se apresenta a seus olhos com as cores foscas que lhe conferem as janelas do carro oficial.

Quero crer, mas não posso afirmar se já topei com algum desses, político, industrial, profissional. Vi muito, isso posso garantir, de poetas e de loucos, categorias com grande facilidade em se confundir e multiplicar. Pouco me surpreende. Um louco é alguém que vive atormentado por fantasmas que só existem em sua imaginação. Um poeta é alguém que vive atormentado por fantasmas que existem na imaginação de todos. O poeta tem sorte com os fantasmas que o escolheram. Pode, durante o dia, travestir-se em cidadão. Comerciante, funcionário, burocrata, tudo. O louco pode apenas encolher-se em algum canto.

Na madrugada, os papéis se invertem. Os poetas invejam ao louco a exclusividade de seus fantasmas. Quando comungam de um mesmo reino, é o infeliz que detém cetro e coroa. Até que os assalte a alvorada, vagam todos nos domínios dos espectros, seus passos comandados pelo éter falante nos confins de seus espíritos e, aos olhos dos sensatos que dormem e ressonam, puros e criminosos igualmente, aparecem como desvairados, todos eles.

Já cheguei a me perguntar por que alguns desses poetas são puros poetas, apenas poetas, e nisso incluo todos os artistas que doam suas existências miseráveis à arte que produzem, e lhes parece tão grandiosa, ao passo que outros tantos poetas, tão poetas quanto, tão artistas quanto, mesmo se escamoteados, se metem a louvar o dia, esse tempo que cultiva doentes no lugar dos loucos e heresias em vez de fantasmas. Como pode um notívago, que dançava acordado com a encarnação de seus sonhos, comandar um país, uma corporação, uma esquadra?

Não compreendo que energia os empurra para duas direções tão distintas. Admiro a serenidade que transparece em seus momentos de normalidade. Mas posso apenas supor, fantasiar, o sofrimento que lhes causem as batalhas entre as duas metades de seus seres. A alma, que deveria ser indivisível, segundo nos ensinam há tantos anos, parece mais um espelho espatifado. É um autêntico enigma.

12.11.07

Frente a frente com os tipos de Fellini


Foi na Toscana que entendi o cinema de Fellini. Finalmente. Antes de cair quase por acaso nessa parte única do mundo, eu me deixava encantar pelas idéias mirabolantes do gênio, personagens inverossímeis, diálogos cínicos, paisagens coloridas, maquiagens estrambóticas. Até onde podia alcançar meu entendimento, a obra do mestre casava, com perfeição milagrosa, a observação ácida e a simples loucura. Filmes como E La Nave Va e Giulietta dos Espíritos me deixavam boquiaberto.

Foi assim até o dia em que me vi em pleno , (a meu ver) a maior das obras-primas de Fellini. Isso talvez me acontecesse se eu fosse conhecer a Cinecittà, complexo de estúdios nos arredores de Roma que conserva alguns cenários da época em que o cinema italiano era grandioso. Mas não caí em nenhum cenário: caí no próprio filme. Pensei mesmo que fosse flagrar alguma câmera escondida ou ouvir o fantasma do cineasta berrando "corta!" em tom de irritação. Sei que falar assim soa louco, mas pouco importa. Foi assim.

Melhor passar para o relato direto. Como expliquei no penúltimo texto, a pequena hospedaria que nos recebeu pelos três dias que passamos entre os ciprestes da Toscana fica localizada entre duas pequenas cidades, Chiusi e Chianciano. Esta última vem com um adendo: Chianciano Terme. Isso se explica pelo fato de que não há grande coisa, no município, além de um punhado de estações de águas.

Mas não são pouca coisa, essas termas. Existem ali, incrustadas entre as colinas, há coisa de três milênios. Desde então, vêm curando etruscos, romanos, italianos e turistas, plenos de fé nos poderes purgativos da água que brota do chão. Consta que o primeiro freqüentador muito famoso foi Horácio, o poeta lírico da era de Augusto, que sofria dos rins por conta de uma vida bastante desregrada. Grandes odes latinas devem ter sido compostas entre aquelas fontes e colunatas.

A última celebridade, até onde conheço, foi ninguém menos do que Federico Fellini. O diretor freqüentava a pequena cidade, tratava-se em suas águas e passava o resto do tempo batendo papo com alguns dos pouco menos de sete mil habitantes da localidade. Na companhia de Giulietta Masina, sua eterna protagonista e esposa, passava ali dias inteiros, concebendo roteiros e tipos estranhos para povoá-los. Pois uma visita à estação de águas de Chianciano Terme foi o suficiente para me revelar de onde vinha a inspiração para esses tipos, representados com sarcasmo demolidor em .

Logo à entrada, vi duas senhoras muito idosas que tentavam cumprimentar-se com ósculos nas faces. A tarefa não era tão simples. Entre os lábios de uma e as bochechas de outra, entrepunham-se duas abas de dois chapéus, tão largas, tão bem desenhadas, tão cheias de babados, que não permitiriam o menor contato entre as peles enrugadas. Aquela situação, para mim beirando o surreal, lhes parecia supremamente engraçada. Rendia risadas histriônicas, que ecoavam por todo o saguão de entrada do parque, e chamavam a atenção dos funcionários. Elas não davam importância ao incômodo que causavam. Tentavam beijar-se, enquanto, a seus pés, dois cães do tamanho de camundongos se engalfinhavam.

Pelos caminhos do jardim, quase fui pisoteado por um cortejo que avançava feito as tropas de Aníbal. Homens de terno e gravata e mulheres de luvas brancas, todos exibindo sorrisos desesperados. Uma dúzia de pares de olhos, apertados e mareados, fitavam um homem obeso, alto, de cabelos engomados e vestimenta toda negra, que discursava com uma voz pastosa de insolência à frente da comissão. Não entendi o que ele dizia. Devia ser um homem muito importante. Em passos miúdos, seu séquito não o largou por toda a manhã.

Finalmente, cheguei a uma área com mesas de plástico, onde homens e mulheres encurvados jogavam cartas e dominó. Garçons atravessavam a clareira, equilibrando bandejas e guardanapos, ouvindo desaforos dos clientes, servindo bebidas coloridas. Ao centro, o coreto. Um teclado, uma guitarra elétrica, uma bateria. Um tenor jovem, também engomado, também todo de negro. Pôs-se a cantar, em tom de ária, canções populares americanas de décadas passadas. Foi o suficiente para que as mesas se esvaziassem, os jogos terminassem, e as pessoas encurvadas se entregassem à dança, como se a água milagrosa contivesse anfetaminas. E sou capaz de jurar: de toda a má música a que já fui submetido nesta vida, aquela figura entre as piores.

A princípio assustado, logo me vi maravilhado. Todas aquelas pessoas nada mais eram senão personagens de Fellini, ali, à minha volta, em carne e osso. Senti-me um privilegiado. Existe, no mundo real, gente tão esquisita quanto as figuras que o mestre do cinema italiano desenhava para depois filmar. É uma pena que o próprio Fellini não estivesse ali para conversar comigo, como fazia com os freqüentadores de sua época. Tenho a impressão de que ele era tão interessante quanto seus tipos.

5.11.07

A quem não consegue me ler

Lá vem a primeira pausa na série italiana, que mal começou!

Mas insisto que é perdoável, já que é questão de assunto técnico. Há tempos, quem usa Firefox torce o nariz para mim: este blog aparece deformado, irreconhecível, em suas telas. Diante das queixas, sempre me vi sem resposta. Nada sei sobre o funcionamento dos códigos por trás das páginas. Sou um mero usuário, um neófito, um leigo inocente que meteu o nariz onde não devia. Minha reação normal a problemas como esse é fechar os olhos na esperança de que, ao reabri-los, tudo estará de volta ao normal.

Fechar os olhos e esperar que tudo se resolva sozinho! Parece coisa de criança? Pois que pareça. Pode rir à vontade, mas costuma dar certo. Computadores, entendam, são seres de gênio difícil, como a maioria das coisas que produz a mão plena de emoções do ser humano. Essas pobres máquinas vivem dando problema. O sistema operacional quebra a cada esquina, assim como o editor de texto, o navegador da internet e qualquer outro programa. Faz lembrar um e-mail que andou circulando por aí, em que o presidente da GM (ou seria da Ford? Já esqueci) descreve um universo onde a Microsoft fabrica carros e, em resumo, as panes são regra.

Com isso, as mesmas crises que vêm, vão. Algumas duram horas. Outras, dias. Semanas. Séculos. Existem aquelas que desaparecem quando reiniciamos um programa, ou o próprio computador. Mas tampouco são raras as que persistem. Desde que uso computadores, ou seja, desde sempre, tem sido assim. Qualquer máquina inventava dois ou três problemas com que tínhamos simplesmente de conviver. Ou então... comprar outra. Mas não queríamos desperdiçar dinheiro, nem ter o trabalho de transmitir todos os dados de um para outro. Afinal de contas, esse também traria suas empulhações.

Mas a questão do Firefox versus meu blog simplesmente não queria se resolver. Passaram-se meses e meses, e com eles, as eventuais reclamações do povo que jogou uma banana para a Microsoft. Devo ter passado a impressão de não ligar para os problemas desses usuários, de ser arrogante, surdo, enfim. Mas não é verdade. Apenas, eu não sabia o que fazer. Esperava uma qualquer panacéia cibernética, que restabelecesse a boa ordem. Mas, bom, nada de boa ordem neste blog! Pelo menos para a turma desse navegador cheio de truques simpáticos.

E essas são cada vez mais pessoas. Sempre que aparece um nas minhas estatísticas, temo que ele jamais queira voltar, por conta desse detalhe desagradável (não é um detalhe, na verdade). E eu, que cheguei a acreditar que bastaria cuidar bem do texto para garantir a sobrevivência de minha página. Nada disso, pobre Diego, você se enganou redondamente. A apresentação é fundamental e inescapável. Bem reconheço... Talvez tarde demais.

Dobrando-me aos fatos, fiz o que parecia óbvio: instalei, eu também, o Firefox. E vi o desastre: tudo está alinhado à esquerda, o cabeçalho está bagunçado, a barra lateral vem antes do corpo principal, lá no fundo do universo, escondido por uma série de informações que não interessam a ninguém (infelizmente). Para chegar ao primeiro texto propriamente dito, o visitante que chega a bordo do Firefox é submetido à obrigação, aliás injusta, de descer a barra de rolagem até quase a metade. Se é que terá a paciência.

Acusei o golpe. O desespero me atacou. Suei frio. Mordi as unhas. Projetei-me sobre a página de código, escrita numa linguagem nova que me é menos compreensível que o grego arcaico. Vi-me face a face com todas aquelas barras, aquelas chaves, as letras e números que parecem não dizer nada, mas são perfeitamente legíveis para navegadores e programadores. Tentei uma coisa aqui, outra ali. No Explorer, vi mudanças. No Firefox, tudo seguia idêntico. Donde concluo que só pode ser uma maldição. E já me disseram mais de uma vez: "Engraçado, costuma ser o inverso". Pois bem, não é o meu caso.

Como já devem estar esperando os mais cínicos, este texto não é apenas o relato de uma relação difícil com a realidade paralela do mundo virtual. Admito sem titubear: é um pedido de socorro. Endereço-o a alguma boa alma, que possa me ajudar a superar este estranho percalço na vida de um editor de blog humilde e boa praça. Pago uma cerveja ao bom amigo. Se for abstêmio, mandarei, pelo correio, bombons de chocolate. Para que tudo volte à normalidade!

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